Opinião

Por que democratizar o capital da Eletrobras?

A Eletrobras tem muitos desafios pela frente para resgatar a condição de uma empresa forte e sustentável pelas próximas décadas

Por Fabio Couto

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Com 55 anos de serviços prestados, a Eletrobras é a maior empresa de geração e transmissão de energia elétrica do país. Contribuiu, de forma significativa, para que o Brasil tivesse uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, de origem hídrica, e consolidasse o Sistema Interligado Nacional (SIN).

Hoje, no entanto, a empresa está diante de um dilema. Sessenta por cento das ações da Eletrobras estão nas mãos de União, BNDES/BNDESPar e fundos federais, o que impõe amarras burocráticas no cumprimento de obrigações e uma tomada de decisões mais lenta.

Para atender a uma política de governo, a empresa aderiu ao regime de cotas a partir da MP 579, de 2012. Hoje, 14 de nossas usinas operam nesse sistema, com custos muito acima de suas receitas. Já no ano de seu lançamento, a medida causou prejuízos de cerca de R$ 10 bilhões às nossas empresas. Desde então, a Eletrobras perdeu competitividade e cedeu espaço na geração e na transmissão de energia elétrica para seus concorrentes. Sem falar que atrasou a entrega de obras e precisou de aportes do Tesouro para acertar suas contas.

Na geração de energia, a Eletrobras chegou a ter 36% em 2011, e caiu para 31%, em fins de 2016. Dos 33 GW de aumento da capacidade instalada nos últimos cinco anos, a Eletrobras contribuiu com apenas 15%. Outros 85% vieram de outras empresas, na maioria privadas. Na transmissão, sua participação era de 58% da rede básica do sistema, em 2012. Caiu para 47%.

Nos últimos anos, com receitas limitadas e custos crescentes, a companhia foi incentivada a entrar, como sócia minoritária, em diversos projetos de geração e transmissão. Ao todo, participa de 178 Sociedades de Propósito Específico (SPEs).

A Eletrobras tem muitos desafios pela frente para resgatar a condição de uma empresa forte e sustentável pelas próximas décadas. Para isso, uma semente precisa ser plantada agora, para que a empresa volte a investir em novas tecnologias, tenha custos compatíveis com suas receitas e mantenha boa governança.

O setor elétrico brasileiro passa por grande transformação, para aumentar investimentos, expandir capacidade instalada e ampliar oferta em energias renováveis, o que acabará por gerar novos empregos. Para vencer esses desafios num país com déficit público de R$ 160 bilhões, é indispensável contar com capital privado.

Por tudo isso, acredito que o futuro da Eletrobras depende, fundamentalmente, da democratização do seu capital.
Nossa opção jamais foi vender a empresa. Queremos emitir ações para atrair novos investidores e recuperar as usinas hoje cotizadas, para que elas operem como produtores independentes de energia. A União, então, mesmo com uma fatia proporcionalmente menor no capital da Eletrobras, será sócia relevante de uma empresa maior e mais rentável.

Nos últimos meses, trabalhamos para recuperar a companhia: aumentamos em 70% a geração de caixa, medida pelo Ebitda, reduzimos de 9 vezes para 4,1 vezes o endividamento em relação à sua geração de caixa (a meta é ficar abaixo de 3, no ano que vem); melhoramos muito as práticas de governança; aprimoramos controles internos e criamos um Canal de Denúncias independente, único para todas as empresas Eletrobras. As ações da empresa voltaram a ser negociadas na Bolsa de Nova Iorque em outubro de 2016, após arquivamento dos Formulários 20-F relativos a 2014 e 2015, que estavam atrasados. Desde então, as ações já subiram mais de 200%.

A reestruturação exigiu corte de custos, venda e fechamento de empresas, venda de imóveis e racionalização de processos. Criamos um plano de aposentadoria extraordinária, já que quase metade da força de trabalho tinha mais de 50 anos. Conseguimos atingir economia de R$ 880 milhões por ano. Agora, estamos prestes a lançar um plano de demissão incentivada, a partir de 2018.

Em 2016, ainda, a Eletrobras voltou a operar no azul, com lucro de R$ 3,4 bilhões. Neste ano de 2017, até o terceiro trimestre, o resultado está positivo em R$ 2,3 bilhões.

Uma Eletrobras mais competitiva é um excelente negócio para a própria empresa, para o setor elétrico e para o Brasil. A sociedade não aguenta mais pagar por ineficiências e privilégios e sabe que o Estado brasileiro precisa investir em saúde, educação e segurança, seus compromissos maiores. Mas, ainda assim, poderá contar com uma grande corporação no setor elétrico, seguindo o exemplo de Vale e Embraer, que já foram consideradas estatais intocáveis. Hoje, com capital privado, estão entre as maiores empresas do mundo, gerando empregos e divisas para o país. É esse o futuro que queremos para a Eletrobras.

Wilson Ferreira Jr. é presidente da Eletrobras

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