Opinião

Wagner Victer, ex-secretário de Energia do RJ: Preparando engenheiros para a indústria de petróleo

Grande desafio do momento é aproximar objetivamente a indústria de petróleo com os jovens talentos

Por Wagner Victer

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O sucesso de qualquer atividade empresarial se obtém a partir de um planejamento estruturado e fundamentado em focos que podem se aprofundar, de maneira distinta, em função do segmento econômico e do tempo.

Na indústria do petróleo, de capital intensivo, porém, com a permanente evolução tecnológica necessária a manter a competitividade, o investimento planejado na função do desenvolvimento dos seus recursos humanos é cada vez mais uma variável fundamental para obter o sucesso das organizações e o tornar perene.

Durante muitas décadas no Brasil o esforço de formação de profissionais de engenharia para o setor de petróleo se concentrava em ações promovidas, direta ou indiretamente, pela própria Petrobras. Com este objetivo, foram criados “Centros de Formação” de profissionais de engenharia para a indústria petrolífera. Destacaram-se as unidades que tinham suas sedes no Rio de Janeiro, focadas nas regiões Sul/Sudeste (Censud) e Nordeste (Cennor). Os cursos de formação se estruturavam ao longo de um ano com o objetivo de incorporar conhecimentos da indústria para formar profissionais para os principais cortes tecnológicos de engenharia para o setor de petróleo, como, por exemplo, Engenheiros de Equipamentos, Engenheiros de Processamento, Engenheiros de Inspeção, Engenheiros de Dutos e Terminais, entre outros.

Ainda na década de 1970, visando antecipar a formação desses profissionais e a identificação de talentos já nas universidades para o setor, foram estabelecidos convênios com as principais universidades do país. Assim, eram formadas turmas especiais onde futuros engenheiros associavam a formação técnica para o setor conjuntamente com o 5º e último ano do Curso de Engenharia. Dessa forma,  funcionavam como uma graduação complementar tipo “sanduíche”, de maneira que, em função do desempenho nesta formação, o profissional pudesse ingressar diretamente na Petrobras, tendo em vista que a exigência formal do concurso público só ter surgido, na prática, a partir da Constituição Federal em 1988.

O modelo então adotado permitiu com grande sucesso formar com eficácia milhares de profissionais de engenharia não só para a Petrobras, mas indiretamente para toda a indústria petrolífera que funcionava sob regime de monopólio estatal na prática  até junho de 1999, quando aconteceram os primeiros  leilões de blocos de petróleo conduzidos pela ANP a partir da Lei Federal 9.478.

A demanda ampliada por novos profissionais de engenharia ingressando na indústria do petróleo, detentores de um certo conhecimento do setor, exigiu que universidades públicas e privadas começassem a buscar a tendência de atender de forma mais ampla a indústria. Neste cenário, ao final da década de 1990, surgem  os primeiros cursos de graduação  em Engenharia do Petróleo, se destacando o da Universidade do Norte Fluminense (Uenf) mais vocacionado a engenharia  de reservatórios/geofísica, do qual tive a oportunidade  de participar  de sua criação com o professor Carlos Dias, implantando o Laboratório de Engenharia de Petróleo (Lenep) em Macaé. Também como forma complementar, muitas universidades privadas começaram a desenvolver cursos de graduação de curta duração, denominados Tecnólogos de Petróleo e Gás, também no Rio de Janeiro,  se destacando inicialmente, em especial, a Universidade Estácio de Sá.

É importante conhecer este breve histórico, pois o grande desafio neste momento será a aproximação cada vez mais objetiva entre as empresas dos diversos segmentos da indústria para identificar os jovens talentos, cada vez mais cedo. Se possível, ainda na fase dos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio, para que possam sensibilizar jovens talentos para este importante processo de renovação profissional da indústria.

É certo que, dentro da estratégia de cada organização, esta aproximação e formação é feita de forma distinta, em especial por programas de trainees ou até por contratação por conhecimento geral e associado a um programa de formação continuada  para o jovem profissional. Isso deve estar focado na técnica de despertar o jovem engenheiro para o interesse em atuar nesta indústria. Essa  reflexão merece ser feita, pois os desgastes de imagem do setor são o falso paradigma da vida curta da indústria de petróleo, que podem estar afastando os grandes talentos desta indústria. Aliás, neste contexto, observo pouquíssimas empresas realizando programas que são muito normais no exterior, que são os programas de “estágio de férias” normalmente de um mês. Da mesma forma, a postura de agentes institucionais, em especial da ANP, deve ser mais proativa nesse processo de despertar  para o setor, desde a fase do ensino médio, em especial em instituições que promovem o ensino técnico, como os institutos federais, Cefet, Senai e Fundações Estaduais de Ensino Técnico, como Faetec e Fatec.

O sucesso dessa indústria depende muito da forma como devemos despertar esse interesse e com quais políticas firmes e objetivas podemos trazer este jovem de novo para esse sonho de atuar na indústria do petróleo desde o início de sua graduação.

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