Opinião

Práticas sustentáveis despontam entre tendências para o Brasil

Potencial, sem dúvidas, o Brasil tem para se tornar líder em sustentabilidade e gestão de recursos naturais. Mas para isso, é necessária a promoção de uma economia voltada para energias renováveis

Por Marisa Zampolli

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Inserir cada vez mais o conceito de sustentabilidade no setor elétrico é mais do que importante, é questão de sobrevivência, especialmente em um contexto pós-pandêmico, onde tem se registrado um esgotamento dos recursos naturais de forma global. É, portanto, primordial que haja uma modificação nos perfis de consumidor e produtor de energia.

Felizmente, é o que se tem visto. Com a pandemia da Covid-19 nos últimos quase dois anos, o hábito do consumidor mudou. E consequentemente, diversos setores da sociedade também. Segundo os autores Kristina Rogers e Andrew Cosgrove (2020), as pessoas estão mais propensas a marcas propositadas: 62% dos entrevistados dizendo que estão mais inclinados a comprar de empresas que fazem bem para a sociedade e 29% afirmando que pagariam mais caro por marcas que contribuem para a comunidade. Diante de todo esse cenário, o setor elétrico, em especial, deve se atentar para acompanhar o atual movimento de mudanças de hábitos de consumo. 

Potencial, sem dúvidas, o Brasil tem para se tornar líder em sustentabilidade e gestão de recursos naturais. Mas para isso, é necessária a promoção de uma economia voltada para energias renováveis, com algumas siglas precisando virar mantras nas organizações: ODS e ESG. Os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) fazem parte de uma agenda global com objetivos e metas que norteiam as ações de governos, empresas e sociedade como um todo para o desenvolvimento sustentável.

Enquanto ESG é a sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança, usada para medir práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. Além dos óbvios benefícios ambientais, as vantagens de adotar ambas as práticas podem gerar, sobretudo para o setor elétrico, ganhos significativos, como de reputação e oportunidades de negócios, como o investimento em tecnologias de baixa emissão. É preciso olhar para o futuro, hoje. E a realidade aponta para as economias verdes e sustentáveis.

No caso do mercado de energia, pode-se citar o movimento do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para possíveis impactos que transformarão o setor: mudanças climáticas, expansão de renováveis e os 4 D’s (democratização, digitalização, descentralização e descarbonização).

Dando um zoom na expansão de renováveis, as previsões para o mercado de energia elétrica são esperançosas. Segundo levantamento da Aneel, usinas eólicas do Brasil corresponderam a 83% do acréscimo de potência no primeiro semestre de 2021. E um estudo recente do Energy Sector Management Assistance Programa (ESMAP) e da International Financial Corporation (IFC) coloca o Brasil como um dos países com maior potencial do mundo para geração de energia eólica offshore

Sim, nosso país é rico em recursos naturais para geração eólica e solar, e ainda há em pauta também outras fontes como a biomassa, oriunda de matéria orgânica e viva. Mas mais do que prever um futuro otimista, é importante focarmos efetivamente em uma transição energética para uma economia de baixo carbono, em que as energias renováveis serão fundamentais. E neste sentido, uma outra vertente aproxima ainda mais a conexão com objetivos de desenvolvimento sustentável: a mobilidade. Uma vez superado o impacto da dependência hídrica, a preocupação com a mobilidade ganha espaço na agenda setorial: veículos elétricos e híbridos, infraestrutura de recarga e armazenamento de energia devem-se tornar a “bola da vez “.

Há, é fato, um consenso de que o motor elétrico terá um papel central no futuro dos transportes, no entanto existem particularidades como obstáculos para esse novo conceito, como a necessidade de políticas públicas que o favoreçam. Em outros países, vários motivos que os levaram à eletrificação veicular ainda não são vistos no Brasil, como punições a altos níveis de emissões. O que se nota é uma ainda movimentação nesse sentido, promovida pela indústria e por usuários com foco em tornar a mobilidade mais sustentável. 

Em meio a tantas indefinições e possibilidades do futuro – que podemos prever, mas não garantir –, é possível finalizarmos com destaque para algumas tendências no horizonte: crescimento das energias renováveis na matriz energética brasileira, criação de políticas públicas para incentivo à mobilidade sustentável e maior adesão da população aos veículos eletrificados. Assim, pelo menos, é o que esperamos.

Marisa Zampolli é presidente da MM Soluções Integradas, engenheira e especialista em eletromobilidade e gestão de ativos.

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