Opinião

Por que as empresas devem investir em energia limpa

O interesse de empresas de diversos setores, o potencial de desenvolvimento sustentável no Brasil, a abertura do mercado livre cada vez mais próxima e a abundância de recursos serão fatores fundamentais para impulsionar ainda mais esse mercado

Por José Roberto Martins

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O movimento de compra de energia renovável por empresas vai além da constante oscilação de valores da energia elétrica. As boas práticas de governança ambiental, social e corporativa – o tão comentado ESG –, as exigências mais expressivas em relação à sustentabilidade, tanto por parte de acionistas e stakeholders quanto pelo consumidor final, além da redução da emissão de carbono, também são fatores que estão fazendo com que haja uma ascensão desse mercado no Brasil.

Além do custo mais baixo das energias solar e eólica em relação a outras fontes energéticas – mais caras e poluentes –, a abundância de ambos esses recursos no Brasil faz com que o país tenha grande potencial para promover sua geração e consumo. O crescimento do mercado livre é, inclusive, decorrente da queda do preço da energia limpa nos últimos anos, o que vem chamando a atenção das empresas. 

O investimento de longo prazo para uso de energia renovável garante também estabilidade e previsibilidade financeira. Isso porque os contratos dessa natureza costumam ser extensos, de mais de 10 anos, e possibilitam uma negociação prévia de valores entre a compradora e vendedora, que, na maioria das vezes, é abaixo do preço praticado no mercado cativo (aquele ao qual estão sujeitos todos os consumidores residenciais ou industriais que não optaram por migrar para o mercado livre). Esse fato ainda traz segurança em relação ao controle orçamentário para o período estipulado no acordo.

Outro fator atribuído ao crescimento do mercado livre nos últimos anos é a "bancabilidade" dos projetos. A extensão dos prazos destes contratos permitiu que os projetos destinados – ao menos em parte – ao mercado livre atraíssem o interesse dos bancos financiadores. Com a expectativa de crescimento acelerado do mercado para este ano, também em razão da baixa demanda contratada nos últimos leilões de energia (destinados ao mercado cativo) as instituições financeiras esperam aumentar as operações voltadas para energias renováveis no mercado livre em suas linhas de crédito e se preparam para atender a demanda.  Há também um forte apetite de investidores por debêntures lastreadas nesses projetos.

De acordo com o relatório internacional Renewables Global Status Report, da REN21, em 2019 o Brasil liderou o crescimento da energia solar na América Latina, apresentando aumento de 12% em relação ao ano anterior. Outro levantamento, esse realizado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), revelou um crescimento histórico no primeiro trimestre de 2021, representando um aumento de 72% na geração eólica em relação ao mesmo período de 2020.

Apesar da desaceleração econômica devido ao enfrentamento da pandemia, o mundo superou em 2020 a expansão na capacidade de geração de energia renovável em comparação a 2019 em cerca de 50%, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena). As estatísticas apontam que mais de 80% de toda a capacidade elétrica adicionada ao sistema global no último ano era renovável, com a energia solar e eólica representando 91% desse total.

A mudança já é perceptível e a tendência para retomada da economia mundial é o investimento no setor. A Agência Internacional de Energia (IAE) estima um salto na capacidade instalada global da energia solar e eólica para os próximos quatro anos. Em 20 anos, a soma das energias limpas serão, de longe, as mais usadas.

Multinacionais dos mais diversos setores, como tecnologia, mineração, farmacêuticas, têm estabelecido metas de compra de energia renovável para suportar 100% de seu consumo. No Brasil não tem sido muito diferente e, como resultado, o mercado está se desenvolvendo e diversificando.

Os modelos de contratação de energia renovável, visando especialmente a otimização e eficiência em relação à tributação e aos encargos do setor elétrico, também têm se desenvolvido, permitindo que o comprador se torne investidor do projeto (através do modelo de autoprodução por equiparação) ou mesmo que o comprador alugue/arrende o projeto. Além de significar custo mais baixo e sustentabilidade, os contratos de compra de energia renovável também permitem a comercialização de certificados de energia renovável, os I-RECs. 

O interesse de empresas de diversos setores pela compra de energia renovável, o potencial de desenvolvimento sustentável no Brasil, a abertura do mercado livre de energia cada vez mais próxima e a já citada abundância de recursos no país serão fatores fundamentais para impulsionar ainda mais esse mercado de grande potencial. O futuro do planeta depende das mudanças urgentes, necessárias e possíveis já identificadas. E é totalmente necessário que as empresas impulsionem e se beneficiem desse ciclo.

José Roberto Martins e Adam Milgrom são, respectivamente, sócio e associado da área de energia do Trench Rossi Watanabe

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