Opinião

O potencial do ecossistema de energytechs na América Latina

Considerando o cenário energético mundial, nunca houve um incentivo tão grande à inovação no setor de energia como o que está ocorrendo atualmente

Por Renata Ramalhosa

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Os ciclos econômicos da América Latina e a consequente evolução do PIB e dos investimentos no setor energético ao longo das últimas décadas passaram por ondas de crescimento que tiveram como pano de fundo uma série de eventos.

Ao analisar dados anuais, é possível notar que há uma correlação positiva entre o comportamento recente do PIB dos países latino-americano e o comportamento dos investimentos no setor de energia. Considerando o cenário energético mundial, nunca houve um incentivo tão grande à inovação no setor de energia como o que está ocorrendo atualmente. Afinal, este segmento está no centro de uma revolução global que prevê um aumento de 27% no consumo da eletricidade até 2030.

O setor energético é complexo e nos últimos anos tem passado, após movimentações tecnológicas, ambientais e sociais, por profundas mudanças a nível global.

As principais pautas do setor, inclusive do cenário latino-americano, atualmente giram em torno da descarbonização, da descentralização, da digitalização e da eficiência energética.

Estes desafios incluem o aumento da demanda por energia e dos custos de operação, assim como o cumprimento das ambiciosas metas determinadas por alguns países para redução do uso de energia de fontes não-renováveis. Além disso, há desafios relacionados à adequação e adoção de novas tecnologias aliadas às necessidades do "novo cliente/usuário”, que está mais conectado do que nunca.

É neste contexto que novas soluções capitaneadas pelas energytechs têm surgido, buscando melhorar a eficiência energética, reduzir o impacto ambiental por meio de fontes alternativas de energia e diminuir custos para consumidores e empresas. Por este motivo, é fundamental que as companhias de energia se conectem com o ecossistema de inovação e com as energytechs, para que possam colaborar e pilotar soluções que resolvam os desafios do setor.

Segundo mapeamento recente da Beta-i Brasil, entre os anos de 2007 e 2022, foram identificadas 541 energytechs na América Latina em cerca de 20 segmentos que incluem eficiência energética, mobilidade, gerenciamento de energia, distribuição, vendas e relação com o cliente e energias renováveis, entre outros.

O Brasil foi o país que mais se destacou no quesito destino de investimentos, totalizando 47,7% dos aportes em energytechs. Essa classificação foi seguida pelo México, com 17,4%, Chile (8,9%) e Colômbia (7,8%). Os 18,2% restantes estão distribuídos entre outros países latino-americanos.

O estudo traz também uma análise dos investimentos no ecossistema, com um total aproximado de investimento de US$ 2,7 bilhões entre 2007 e 2022, sendo que cerca de US$ 817 milhões foi realizado somente no ano de 2022. Segundo os dados levantados no mapeamento, os aportes realizados no período na região advêm de investimentos de private equity (41,5%), corporate venture capital (22,8%), venture capital (17,2%), de bancos de desenvolvimento (14,2%) e investimentos individuais (0,3%).

A tendência é que estes investimentos aumentem nos próximos anos, devido à continuação de investimentos na área de energia renováveis, com principal destaque para o hidrogênio verde e para o contínuo investimento em infraestrutura e em redes inteligentes. Também haverá algumas alterações profundas que acontecerão nos próximos anos na região, como a liberalização e descentralização do setor, as alterações a sistemas regulatórios locais, os resultados do programa de P&D da Aneel no Brasil e, claro, a contínua pressão para uma descarbonização da economia.

Os desafios são enormes, mas também soluções estão surgindo cada vez mais para os 3D's da indústria de energia: descentralização, descarbonização e digitalização. Portanto, é fundamental que tenhamos um conhecimento profundo deste ecossistema que está cada vez mais em transformação.

Renata Ramalhosa é ex-diplomata e CEO & co-fundadora da consultoria de inovação colaborativa Beta-i Brasil

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