Opinião

Não se pode deixar o bonde passar

Considerando que boa parte da população procura o SUS para resolver problemas de saúde, quanto economizaríamos na saúde pública com a adoção dos veículos elétricos em São Paulo e por que não no Brasil?

Por Marisa Zampolli

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O setor de mobilidade elétrica é um dos que mais cresce ao redor do mundo. Seja por sua eficiência energética, tecnologias inovadoras ou pelos benefícios. Mas ainda que estejamos evoluindo, o tema é sensível por todo o padrão histórico como país na transição energética. Há muitas oportunidades, mas inúmeros desafios.

Um fato relevante é que as vendas de veículos elétricos e híbridos, no Brasil, subiram 74%, no decorrer deste ano, de acordo com dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). É fato a importância desses meios de transporte para as diretrizes que buscam conter a carbonização e reduzir os gases do efeito estufa, mas além da sustentabilidade, existem outros benefícios que os veículos elétricos podem nos proporcionar como sociedade. Estes benefícios englobam desde redução dos gastos com saúde pública até a emissão de ruídos nas grandes cidades.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais 4 milhões de pessoas morrem prematuramente no mundo em decorrência da poluição do ar. Cerca de 90% da população mundial está exposta a níveis de concentração de poluentes acima dos recomendados pela OMS. E isso é grave. Nas regiões metropolitanas, as emissões dos veículos rodoviários, tais como automóveis, ônibus, caminhões e motocicletas, se constituem nas principais fontes de poluição.

O inventário de emissões veiculares elaborado pela CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) calcula que foram emitidas, em 2018, no Estado de São Paulo, 299 mil toneladas de CO, 63 mil toneladas de COV (NMHC), 165 mil toneladas de NOx, 4,1 mil toneladas de MP e 2,7 mil toneladas de SO2, todos poluentes tóxicos. Considerando que boa parte da população procura o SUS para resolver problemas de saúde, então quanto economizaríamos na saúde pública com a adoção dos veículos elétricos no estado de São Paulo e por que não no Brasil?

Estas e outras questões impulsionam empresas dependentes de serviços de logística saltarem a frente na eletrificação de suas frotas.

Esse é o caso do IFood, por exemplo, que recentemente, estreou o Projeto IFood Pedal, que tem o propósito de incentivar os entregadores de delivery a utilizar bicicletas elétricas. A Amazon também não ficou para trás e começou a usar automóveis com motores sustentáveis para realizar entregas, assim como a DHL Supply Chain, que aderiu a 25 unidades em sua frota e pretende ampliar esse número nos próximos anos, e o Mercado Livre, com 70 unidades zero emissões em circulação.  Também podemos citar a Americanas e Magazine, ambas do grande varejo, que também trouxeram as alternativas aos seus negócios.

O fato de as empresas terem enxergado os benefícios da eletromobilidade e transição energética não é coincidência, mas sim, estudos e análises que apontam que soluções renováveis são necessárias para a evolução comercial e preservação do planeta. Esse é um dos valores do ESG – conceitos relacionados a Governança Ambiental, Social e Corporativa – que pautam medidas sustentáveis e de transparência para as organizações. As cadeias energéticas associadas ao setor transporte não estão paradas e já começam a afetar mercados no mundo, atingindo sua consolidação em países desenvolvidos, garantindo o atendimento da demanda, seja por prevenção às mudanças climáticas ou de negócios e sustentabilidade. 

O ESG é muito útil quando as companhias procuram formas de minimizar os impactos causados ao meio ambiente, enquanto buscam manter bons processos administrativos. E não são só as empresas que desejam se enquadrar nessas questões, cada vez mais os investidores analisam as práticas sociais, ambientais e de governança, antes de fechar negócios. Isso é fundamental ao negócio e traz transparência às pessoas.

Precisamos identificar as incertezas que nos cercam e quais as perspectivas que enfrentaremos. Certamente, os tomadores de decisão considerarão informações cruciais sobre o assunto, e exemplos a serem seguidos, para escolhas coerentes e racionais. Essas, definirão como será o Brasil nos próximos períodos. 

Para isso acontecer é necessário desenvolver a indústria local e capacitá-la a produzir insumos para este macro sistema. O país não pode e não deve deixar “este bonde passar”.

Marisa Zampolli é presidente da MM Soluções Integradas, engenheira elétrica e especialista em Gestão de Ativos.

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