Opinião

Executivos na indústria de energia no Brasil

Por Redação

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Marcelo Braga* Ao contrário do que ocorre em serviços financeiros e bens de consumo - áreas em que os brasileiros já são considerados benchmark -, a indústria de energia no Brasil é uma das que mais encontra dificuldades no desenvolvimento de executivos com padrões mundiais. É compreensível, entretanto, a razão de esse patamar internacional não ter sido atingido. Esse mercado foi controlado durante muitos anos por estatais e exigiu dos novos entrantes investimentos intensivos, com retornos em longo prazo.

Além disso, aspectos de regulamentação de mercado dificultam a previsão de como será o futuro do setor energético no país. Na época estatal, uma única empresa era responsável por geração, transmissão e distribuição da energia. Após a privatização de parte do setor, faltaram executivos em número suficiente para cada uma destas subindústrias. Na ocasião, não existiam especialistas para estruturar uma nova empresa e para pensar em temas como project finance e corporate finance para a obtenção de boas linhas de financiamento.

Não existiam ainda executivos com conhecimento profundo de assuntos regulatórios do setor, ou mesmo relacionados a aspectos da própria operação, que também estava defasada em termos de novas tecnologias. Essas eram as maiores dificuldades para os executivos que estavam à frente da nova operação, já que poucos se adequavam a esse complexo perfil para uma indústria que estava renascendo. Para minimizar os efeitos, os novos entrantes trouxeram muitos expatriados.

Embora tivessem diferenciada bagagem profissional vivenciada em outros países, esses profissionais esbarraram na falta de conhecimento do mercado; na dificuldade de entender todo o aspecto logístico da operação pela grandeza continental do Brasil; na complexidade de nosso sistema tributário, órgãos regulatórios e, ainda, no relacionamento com governos, que, para uma indústria recém-privatizada, era de extrema importância.

Além disso, o baixo nível de retorno no curto prazo, agravado por todas as crises econômicas locais e mundiais ocorridas no fim da última década e início desta, fez com que muitas empresas não tivessem recursos suficientes para investir no desenvolvimento de um 'pipeline' de futuros executivos, a ponto de solucionar esta difícil equação. Desta forma, a busca de solução para um problema de curto prazo, com a vinda de expatriados, não contribuiu para resolver a questão a médio e longo prazos.

Quando olhamos o setor de óleo e gás, a história parece se repetir. Existem inúmeras novas empresas chegando ao Brasil por conta dos leilões da ANP, espalhadas em todo o território nacional. A maior parte delas, porém, vem trazendo executivos expatriados, que detêm know-how técnico, mas sem os conhecimentos locais.

Para nós, brasileiros, isto é ótimo. É um conhecimento chegando ao país, são cifras altíssimas de investimentos. Mas é necessário criar condições para estimular um ambiente rico no aprendizado do time, de tal forma que a médio e longo prazos já possamos ter desenvolvido um 'pipeline' de executivos nessa indústria. Além disso, o 'perfil ideal' de um executivo, e não apenas da área de energia, está em constante transformação.

Hoje, por exemplo, por conta de toda a dificuldade na obtenção de linhas de investimentos dos órgãos estatais, o conhecimento do mercado de capitais e de relações com investidores também se tornou mais uma qualidade necessária. Outro aspecto importante é ter profissionais que conheçam não só o Brasil, mas, no mínimo, toda a América Latina. Em relação a esta questão começamos a nos deparar com a dificuldade do idioma, que, por mais estranho que pareça, na indústria energética, ainda é uma grande barreira.

Quando olhamos o cenário no longo prazo, visualizamos que os países emergentes terão um papel fundamental no abastecimento de energia para todo o mundo. Desta forma, as primeiras empresas que conseguirem traçar um programa de desenvolvimento e formação de executivos, além de identificar aqueles oriundos de outras indústrias com perfil necessário para ter uma performance outstanding na indústria energética, serão certamente as que obterão os maiores sucessos.

*Marcelo Braga é Vice-Presidente e sócio da FESA Global Recruiters, empresa de recrutamento de executivos e associada à IIC Partners

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