Opinião

Alexandre Moana, da Abesco: É preciso repensar o horário de verão

É preciso salientar que uma maior ou menor economia de energia tem menos relação com o horário de verão e mais com ações de eficiência energética

Por Alexandre Moana

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Imagine um Brasil com poucas usinas de geração de energia, funcionando com tecnologia aquém da ideal e a população, mal informada, usando de maneira descontrolada o chuveiro elétrico e deixando acesas as luzes em ambientes vazios, que ainda priorizavam o uso de lâmpadas incandescentes.

O cenário, que poderia ser encontrado até algumas décadas atrás, justificaria (e muito) a necessidade da adoção do horário de verão, que entrou em vigor no Brasil em 1931 com o intuito de poupar energia elétrica. Com o horário especial na época mais quente do ano, a população aproveitaria melhor o uso da luz natural, postergando o ligar de luzes, fossem em residências, escritórios, indústrias ou nas ruas, alternando o pico do consumo de energia e, assim, evitando possíveis “apagões”.

Mas, em 2018 - na verdade, até muito antes -, a realidade do país é outra e bastante diferente da do passado. Nos últimos anos, o pico da demanda por energia elétrica tem sido registrado no horário vespertino, o que sinaliza o ar-condicionado como o principal aparelho consumidor de energia. O chuveiro elétrico, apontado por muito tempo como o grande vilão do gasto em energia em residências, perdeu o posto para o aparelho de ar-condicionado, muito mais potente e, por sua vez, com grande potencial de desperdício de energia. Dependendo do seu mau uso, o gasto desnecessário pode superar os 40% do total que é gerado.

Há de se destacar ainda que o ar-condicionado está presente em mais lugares do que o chuveiro elétrico, seja pelo conforto que traz em casas e ambientes de trabalho seja por estar mais acessível atualmente do que no passado, favorecendo a aquisição e uso nos mais diversos ambientes.

Outro ponto importante a ser destacado é que, ao ser ligado, o aparelho de ar-condicionado é usado ao máximo para refrigerar um espaço, logo, não tem relação com a justificativa principal do horário de verão: que é a de aproveitar a luz natural por mais tempo. Afinal, quem é que deixaria o aparelho de refrigeração ligado por apenas dez minutos, período igual ao uso de um chuveiro elétrico? Uma vez ligado, o ar-condicionado continua por horas a fio trabalhando, inclusive durante noites quentes.

Outro elemento que justifica repensar a função do horário especial no verão é o fato de que a disseminação da informação também deixou as pessoas mais conscientes ao adotar medidas de economia. É o caso da adoção de lâmpadas mais eficientes, como as de LED e fluorescentes, substituindo as incandescentes, que eram responsáveis por gerar mais calor do que iluminação, sem falar nos novos comportamentos adotados dentro de casa: saiu do ambiente, desligou a luz, por exemplo.

Ainda há o aspecto do desenvolvimento de equipamentos, residenciais e industriais, que atualmente são produzidos com foco na maior eficiência, que trabalham melhor e desperdiçam menos energia, como é o caso de geladeiras, refrigeradores e tantos outros itens referendados pelo já conhecido selo Procel.

A economia de energia elétrica gerada pela adoção do horário de verão diminuiu expressivamente ao longo dos anos. Segundo dados da CPFL, empresa de distribuição de energia que atende municípios no estado de São Paulo, nos 126 dias em que esteve em vigor entre o final de 2017 e início de 2018, esse horário especial gerou uma economia de 74,2 MWh (Megawatt-hora) em 234 cidades paulistas. Esse montante é o equivalente ao abastecimento de uma cidade com aproximadamente 1,1 milhão de habitantes por apenas oito dias. Uma economia que vem diminuindo.

É por tudo isso que a destacamos que o horário de verão, apesar de ainda gerar uma economia de energia importante, não é, por si só, a única e melhor solução para economizar energia elétrica. É preciso salientar que uma maior ou menor economia de energia almejada pelo país tem menos relação com o horário de verão e mais com ações de eficiência energética.

O Brasil precisa caminhar mais rapidamente em direção à eficiência energética, uma atividade que busca proporcionar meios para se produzir mais com a menor quantidade de energia durante todo o ano. Além disso, gera muitos empregos diretos e indiretos, o que torna mais efetiva, inclusive, a própria economia proporcionada durante o horário de verão.

Alexandre Moana é presidente da Abesco (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia)

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