Opinião

Brasil pode ser um dos maiores produtores de combustíveis nucleares no mundo

Com a duplicação de Caetité e com o projeto Santa Quitéria, a INB passaria a produzir cerca de 3.100 t/ano de Yellow Cake, se tornando um player no mercado mundial de urânio

Por Celso Cunha

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O Brasil tem um futuro promissor no que diz respeito ao desenvolvimento das atividades nucleares a partir da flexibilização da mineração e do potencial de venda de combustível para outros países em função do crescimento mundial. O país pode se tornar o principal produtor mundial de combustíveis para as usinas nucleares do mundo.

O planeta precisa de combustível, e esta demanda pode resultar em muitos ganhos para o Brasil, inclusive parar de importar. Há uma necessidade americana de ter este item essencial para suas usinas, além do momento com a guerra da Ucrânia.

O caminho que o Brasil tem construído até aqui pode ser responsável por levar o país a outro patamar. Precisamos dar continuidade ao que foi conquistado com muito trabalho, esforço e dedicação, conforme vem sendo feito nos últimos anos.

A Indústrias Nucleares do Brasil passa por um momento único, em que se juntam a sua independência financeira, a flexibilização do monopólio e a sua elevação ao status de Empresa Estratégica de Defesa (EED).

Além disso, os grandes projetos em andamento na INB se somam ao potencial de realização de parcerias nas atividades do Ciclo do Combustível, altamente promissoras. Com a duplicação de Caetité e com o projeto Santa Quitéria, a INB passaria a produzir cerca de 3.100 t/ano de U3O8 (Yellow Cake), tornando-se um player no mercado mundial de urânio, produzindo algo em torno de 4,5% desse mercado.

Tudo isso requer uma gestão comprometida com os resultados, com a sustentabilidade financeira da empresa, com o meio ambiente e com a geração de empregos em benefício de toda a sociedade.

Apesar do desejo do setor em dar segmento nas ações realizadas até o momento, atualmente estão sendo avaliadas pelo MME/Planalto as substituições nas diretorias das empresas vinculadas ao Ministério, dentre elas a INB. Ainda não se sabe se haverá alguma mudança. Além disso, esse é o primeiro ano fora do orçamento da União e da flexibilização do monopólio.

Retrospectiva

Nos últimos anos, o setor nuclear no Brasil deu um salto significativo, com destaque para as operações da INB, principalmente com a retomada da produção de urânio em Caetité, que havia sido paralisada desde 2015. Além disso, a empresa alcançou importantes marcos, concluindo a 1ª fase de implantação da fábrica de enriquecimento de urânio com a inauguração das Cascatas 8ª (2019), 9ª (2020) e 10ª (2022). Essas realizações permitiram que a Indústrias Nucleares do Brasil se tornasse independente do Orçamento Fiscal da União em novembro de 2022, sinalizando um novo patamar de autonomia.

Outro ponto relevante foi a homologação da INB como uma Empresa Estratégica de Defesa - EED. Esse reconhecimento veio em razão da produção do combustível para o reator do Protótipo em Terra da Planta de Propulsão do Submarino Nuclear da Marinha - LABGENE, abrindo caminho para o fornecimento desse combustível ao submarino à propulsão nuclear. Essa conquista impulsionou a companhia para uma posição ainda mais importante no cenário estratégico.

Além disso, a INB reativou o projeto Santa Quitéria, no Ceará, em parceria com a FOSNOR-GALVANI. A iniciativa é voltada para a produção de fosfato e urânio, e atualmente está em fase de licenciamento ambiental e nuclear. Os investimentos previstos alcançam R$ 2,3 bilhões e trarão consigo a geração significativa de empregos diretos e indiretos, estimados em 6.000 durante a fase de implantação e 2.800 na fase de operação.

No âmbito de suas atividades já estabelecidas, a INB também avançou no projeto de duplicação da unidade de Caetité, visando produzir 800 toneladas de Yellow Cake, quantidade suficiente para abastecer as 3 usinas de Angra. Além disso a empresa retomou - de forma planejada e alinhada com as demandas do MPF e dos órgãos de controle (CNEN e IBAMA) - as ações de descomissionamento da unidade Caldas. Nesse sentido, a INB tem atuado de forma responsável e consciente no gerenciamento de seus recursos e processos.

Internacionalmente, a empresa também expandiu seus serviços nos EUA, atuando em reatores e estabelecendo parcerias com a Westinghouse, fortalecendo sua presença global e reforçando seu compromisso com a indústria nuclear. Um momento de destaque também foi a participação ativa na regulamentação da flexibilização do monopólio de urânio, consolidada na Lei 14.524/2022, o que demonstra sua contribuição para o desenvolvimento do setor e do país como um todo.

Olhando para o futuro, 2023 reserva importantes entregas para a Indústrias Nucleares do Brasil. Está previsto o primeiro Transporte de Yellow Cake produzido em Caetité, algo que não acontecia desde 2014, reforçando o avanço nas atividades de produção de urânio. A companhia renovará também o memorando de entendimento com o governo do Ceará, assegurando contrapartidas do estado para Santa Quitéria.

Outra medida que impactará positivamente os colaboradores da empresa é a implantação da participação nos lucros e resultados da empresa, decorrente da saída da INB do Orçamento da União, valorizando o trabalho e o comprometimento dos funcionários.

Por fim, a instituição pretende continuar suas parcerias e ações previstas nos memorandos de entendimento assinados com importantes instituições como o IPEN, Marinha do Brasil e CDTN, entre outras. Essas parcerias consolidam a posição da empresa no cenário nacional e reforçam sua relevância no campo da tecnologia nuclear.

Dessa forma, a INB segue em um caminho de crescimento, avanço tecnológico e contribuição estratégica para o Brasil, impulsionada por suas conquistas recentes e seus planos ambiciosos para o futuro.

Celso Cunha é presidente da Abdan (Associação Brasileira para Desenvolvimento Atividades Nucleares)

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