Opinião

As mulheres como fator de transformação para o mercado de energia

De acordo com estudo publicado pela Irena, as mulheres representam apenas 22% do mercado de trabalho no setor energético, em geral. No segmento de energias renováveis, o número sobe para 32%

Por Redação

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Em meio à transição energética, as organizações ainda têm um longo caminho a percorrer rumo às metas estipuladas na COP 26. O desafio, contudo, não diz respeito apenas às novas formas de produção e consumo de energia, mas também à ressignificação de valores que estruturam a nossa sociedade. Afinal, não há sustentabilidade sem equidade e diversidade, pilares necessários à construção de um modelo social mais justo e inclusivo.

Diante disso, o tema da Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) sempre despertou em mim um grande senso de urgência profissional e social. Como mulher e gestora de Recursos Humanos, as discussões acerca de identidade e gênero, diversidade de grupos étnicos, culturais e geracionais permeiam os aspectos mais fundamentais da nossa vida. Um exemplo disso são as distorções que se refletem e se acentuam no mercado de trabalho.

No setor de energia renovável, tão complexo de recente, é difícil mensurar a participação feminina. Em 2019, a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) revelou que as mulheres representam apenas 22% da força de trabalho no setor energético. Na área de energia renovável, o percentual sobe para 32%. Como se vê, a representatividade está longe de ser a ideal.

No setor elétrico, o cenário não é diferente. A boa notícia, entretanto, é que há uma aliança de empresas deste setor que busca reforçar o compromisso com a agenda de diversidade. Em 2020, quatorze empresas do Reino Unido aderiram ao ELC, sigla em inglês para Coalizão dos Líderes de Energia. O objetivo é aumentar a diversidade de gênero no setor de energia e impedir que a disparidade fique ainda maior.

Outra frente importante são as iniciativas recentes das empresas do setor elétrico, inclusive no Brasil, que incentivam a formação de mulheres nas áreas técnicas e um maior número de mulheres em posições de liderança.

Como podemos gerar a mudança?

Não se trata apenas de recrutar mais mulheres. É preciso criar uma cultura organizacional que seja mais aberta e colaborativa. Em um ambiente inclusivo, as mulheres se sentem mais seguras e valorizadas e, assim, desenvolvem competências que podem ser decisivas para o futuro do negócio e para inspirar outras profissionais.

O ambiente de trabalho é identificado como inclusivo quando há igualdade de tratamento e de oportunidades. Como exemplo, pode citar diversas formas de composição familiar, que exigem maior flexibilidade das políticas organizacionais. Para muitas mulheres que são mães, poder trabalhar numa empresa com escala de trabalho flexível é um enorme benefício. Adicionalmente, poder expor suas necessidades, sem receio de que possam repercutir negativamente em sua imagem como profissional ou em suas carreiras, é um bom exemplo de inclusão.

Outro ponto importante para refletirmos e que impacta diretamente a seleção de mais mulheres, é o termo fit cultural, amplamente usado nas organizações, mas que está em desalinho com os princípios de DE&I. Atualmente, precisamos falar e destacar os aspectos, como valores pessoais e perspectiva, que o indivíduo traz e adiciona a cultura organizacional.

Sempre me questionei sobre como as organizações poderiam, através de suas práticas de DE&I, influenciar a mudança em nossa sociedade. E foi desta inquietude que nasceu o livro “Mulheres na Energia”.

Foi através deste pensamento de influenciar além dos muros das organizações que nasceu a ideia do livro “Mulheres na Energia”. Conheci a presidente da editora Leader, Andreia Roma, em 2020, enquanto coautora do livro “Mulheres no RH”. A editora possui uma série de livros que registra e reforça a importância da presença feminina em diversas disciplinas e no mercado de trabalho. Quando conheci a série, achei a iniciativa incrível e sugeri o tema ‘Mulheres na Energia’.

A proposta foi aceita pela editora e me tornei coordenadora do projeto, que conta com a participação de profissionais de diferentes setores e empresas do mercado de Energia. Do setor de Renováveis e Elétrico, temos coautoras das empresas EDF, ENGIE, SPIC Brasil, Athon Energia, Luminae Energia e IBITU Energia.

A ideia do livro é conversar com diferentes perfis geracionais e tratar do ciclo de vida da mulher no mercado de trabalho, trazendo a reflexão de que mesmo após a aposentadoria podemos continuar contribuindo positivamente no mercado profissional.

Nosso público-alvo é direcionado às jovens que se encontram em processo de escolha de carreira, buscando influenciar mais mulheres a ingressarem na carreira STEAM; profissionais que estão iniciando no mercado, aumentando a atratividade em nosso setor; mulheres de outros mercados que podem migrar para o mercado de energia; e profissionais que tenham interesse em migrar da carreira técnica para posições de liderança, aumentando o número de mulheres em cargos executivos.

Por esta razão, o livro tem a ambição de contribuir para equidade e igualdade de gênero no mercado de energia, demonstrando como a contribuição das mulheres é essencial para trazer um novo olhar e uma nova perspectiva sobre um mercado em grande transformação. Desta forma, busca-se explorar o conceito de interseccionalidade, que é quando a identidade de uma mulher é formada de várias identidades sub-representadas. Isto porque existem ainda mais barreiras em nossa sociedade para que estes perfis tenham representatividade e alcancem sucesso em suas carreiras.

O Mulheres na Energia contará a história de mulheres inspiradoras, abordando seus sucessos e dificuldades ao longo de suas carreiras. Os prefaciadores da obra serão Cristina Pinho e o Márcio Felix.

O lançamento do livro está previsto para o primeiro semestre de 2022.

Gabrielle Botelho é diretora de Recursos Humanos da CGG para América do Sul

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